domingo, 19 de janeiro de 2014

À espreita

É domingo à tarde. Não está a chover agora e o sol também só está à espreita. Não está lindo e brilhante. Só espreita. Acho que hoje também não estou linda e brilhante. Estou baça e à espreita, como o tempo. Espreitar: verbo transitivo; espiar para surpreender; observar: espreitar o inimigo; espreitar a ocasião, procurar ensejo, oportunidade para algo. Dito assim até parece um verbo estratégico, talvez seja. E se assim for, prefiro encará-lo como a espera por uma oportunidade. Mas quanto tempo mesmo tenho de esperar? Um dia? Uma semana? Um mês? Ou melhor: há quanto tempo estarei eu à espera? Acho que há muito. E acho que é há muito exatamente por isso. Porque estou à espera. Se não tivesse à espera não achava que era muito tempo. Não achava nada. Nem sobre a espera nem sobre o tempo. Apenas não achava nada. Conclusão: é melhor não estar à espera. Eu sei que isso é o melhor. Mas quantas não são as vezes que sabemos o que é o melhor e fazemos o pior. Pode não ser o errado, mas é com certeza o pior. E fazê-mo-lo. Sempre o fiz, faço-o e acho que vou continuar a fazê-lo porque, pior ainda que saber que estou a fazer o pior, é a dúvida que fica na cabeça caso eu não tivesse feito nada. E essa dúvida corrói a alma, o espírito e o coração. E eu não gosto que essa dúvida me corroa, muito menos o coração. Não gosto que ela me siga. Não gosto que ela ande atrás de mim a inquietar-me o juízo. Não gosto dela, por isso tento sempre eliminá-la com toda a coragem que tiver naquele momento. E depois fico com esse momento. Terei sempre esse momento. E cabe-me sempre a mim decidir o que faço com ele... Se sorrio porque foi uma vitória, ou se choro porque foi uma lição para eu estar quieta. Ou se não faço nada e sigo em frente. Hoje choro, apetece-me lavar a alma. Apetece-me agarrar nessa tal dita espera, nesse tal dito tempo, nessa tal dita dúvida e nesse precioso momento e deixar de me agarrar a eles. Deitar tudo fora. E hoje é isso que me apetece. É essa a minha resolução neste momento. Amanhã talvez seja outra. Não sei. Hoje não quero  nem saber. 

1 comentário:

  1. depois da névoa vem sempre o sol, que irá iluminar o caminho, paciência e cabeça erguida !

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