segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Ah e tal, toca a falar mal da praxe!

O Público deu-se ao trabalho de fazer uma pequena compilação da história da praxe. Provavelmente esta compilação foi feita com uma intenção depreciativa, mas eu não a vi assim. Como podem constatar os interessados, a praxe sobreviveu. A praxe sobreviveu, sobrevive e vai continuar a sobreviver. Sobrevive porque embora existam realmente alguns veteranos/engenheiros/doutores/académicos (whatever) ignorantes e que não sabem transmitir os valores da praxe, hão-de continuar sempre a existir também aqueles que o sabem fazer. Aqueles que dizem que o caloiro é uma besta reles e que não vale uma m*rda mas que o sabem dizer. E mais importante do que tudo: sabe quais são os limites e onde deve parar! E essa ignorância que reside nas mentes de quem passa os limites, não é culpa da praxe. É culpa do indivíduo... que provavelmente é um ser humano frustrado e que se aproveita dos novatos para se sentir superior. Não sei se é isto, sou eu apenas a especular! E especulo porque acho que posso especular, acho que tenho esse direito. Adquiri-o pela experiência própria. 
Andei em duas Universidades diferentes. Para falar português correto, poder-se-ía dizer que "a cara de uma é o cu da outra". Em 2008 entrei na Escola Superior Agrária de Coimbra e em 2009 na Universidade do Algarve. Pelo nome, nada a ver certo?!
Sempre que se ouvem as palavras "Agrária" e "praxes" na mesma frase, levantam-se as vozes para falar das praxes horríveis horríveis que por lá se praticam. Muitas destas vozes são de quem nem lá passou, mas pronto. Eu andei na Agrária, fui praxada na Agrária e tenho ORGULHO nisso! E não foi uma ou duas semanitas de praxe onde se aprende os nomes dos colegas e se cantam umas musiquinhas... foram meses! Mais de dois meses salvo erro. Gritaram comigo e fizeram-me gritar até perder a voz; pregaram-me partidas; encheram-me a cabeça de mistelas tão nojentas que só de me lembrar do cheiro dá-me vontade de vomitar; tive de passar no famoso "túnel da merda", comer sem talheres, andar com a cara pintada e a roupa do avesso; não me podia sentar nas cadeiras do bar. Tudo coisas horríveis horríveis! Mas o engraçado disto tudo é que ainda hoje mantenho amigos desse tempo; recordo como se fosse hoje o dia em que conheci o meu padrinho; o dia em que os meus pais tiveram de me ir buscar embrulhada em toalhas depois da tomatada; o dia em que me sentei nas cadeiras do bar, o dia da real praxe e até mesmo as músicas que aprendi durante a praxe. Hum... é mesmo horrível recordar-me disto tudo! Infelizmente não tive a oportunidade de praxar na Agrária, mas é uma casa que ainda hoje me recebe de braços abertos sempre que a visito.
No ano seguinte, em 2009, entrei na Universidade do Algarve. Nova cidade, nova casa, novas pessoas. Tudo novo e eu assustada. Como só entrei na segunda fase, não fui praxada nesse ano. Ou seja, já estava no meu 2º ano do curso quando fui praxada. E não gostei. E não culpo a Universidade do Algarve pela praxe. Apenas não gostei porque integrada já eu estava e porque quem me praxou tinha uma sede qualquer de qualquer coisa que me ultrapassava. E eu não gostei daquela praxe. E sim, senti-me humilhada, mas não é culpa da Universidade do Algarve nem da Escola Superior de Saúde. Não foi preciso andar na merda e o facto de me chamarem de besta me incomodava... era o espírito. O espírito naquele ano era estranho. E é aí que reside o fundamento para o que disse anteriormente: a culpa não é da instituição mas sim de quem a está a representar... o tal indivíduo frustrado. Ou indivíduos.
Também eu tive uma pequena má experiência com a praxe. Mas isso não me faz querer aboli-la do mapa. O que me deu de bom supera em muito toda e qualquer coisa menos boa. 
No ano seguinte, em 2011 era eu a académica, era eu que ia praxar. No final disseram que era das piores de todas, que não deixava passar nada ao lado e que estava sempre a gritar aos ouvidos de toda gente para que cantassem mais alto. E depois disso agradeceram-me. Agradeceram-me por os ter recebido tão bem e ter feito da UAlg a sua segunda casa. Tive no total 9 afilhados, e hoje nem tenho conta ao número de netos. Sim, porque em 2013 foi a vez dos meus afilhados praxarem, e a mensagem que eles transmitiram aos meus netos, foi exatamente a mesma que eu lhes transmiti há uns anos atrás. E isso enche-me o peito de ORGULHO mais uma vez. 
A tragédia do Meco assustou o coração de muitas mães e muitos pais. Foi um acontecimento devastador, sem dúvida alguma. Mas ninguém sabe ainda o que lá se passou. Uma das possibilidades é que aquilo seria um fim de semana de praxe, e li algures que os jovens tinham sido vistos com pedras atadas aos tornozelos. Verdade ou mentira? Não sei. Só sei que isso nada tem a ver com os valores que me foram incutidos na praxe. Nada tem a ver com o significado que a praxe tem para mim. Se há instituições com valores de praxe insultuosos e abusivos e que não sabem controlar os seus alunos, aquelas por onde passei não se encontram nessa lista. Não concordo com a intenção de abolir a praxe da vida académica. Concordo com a imposição de regras e limites, não com a sua abolição.  
Portanto para mim a praxe é sinónimo de alegria, família, companheirismo, diversão, respeito, orgulho, convívio e integração. É um momento que marca a vida de cada um e que nos traz aqueles que serão, na maior parte das vezes, os nossos amigos para o resto da vida. É uma recordação que fica para todo o sempre. E tirar isso aos futuros caloiros das nossas Universidades seria uma ofensa à nossa história. Àquilo que somos enquanto país e identidade. 
Desde já aviso que as imagens que se seguem podem ferir a susceptibilidade daqueles cujas opiniões divergem da minha.















Dura Praxis, Sed Praxis

E só para rematar, o melhor do meu dia de hoje foi mesmo ter-me dedicado a escrever este texto.




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